Os gols de cabeça que fazem a alegria de torcedores têm um significado oposto para a saúde de seus autores. Foi isso o que provou um estudo desenvolvido pela Universidade de Toronto, no Canadá, publicado ontem na revista científica “Brain Injury”. Os diversos contatos com o crânio durante um jogo de futebol podem contribuir, a longo prazo, para o declínio cognitivo dos atletas.
Esses danos não são tão severos como os provocados pelo boxe, mas é preciso cuidado. Quem vive da atividade está sob constante risco de sofrer colisões que causam concussões — lesões cerebrais moderadas. Os casos mais graves, por exemplo, são ocasionados pelo contato acidental ou inesperado, como os que são fruto da colisão entre jogadores.
Entretanto, é cada vez mais latente a preocupação com consequências comportamentais a longo prazo para quem sofre constantes impactos leves.
A avaliação, feita com base em análises de outras pesquisas sobre o assunto, apontou que jogadores mais antigos apresentavam déficit de memória e percepção, além de resultados ruins em testes de atenção. Também foi constatado prejuízo no pensamento conceitual e nos tempos de reação e concentração. O trabalho foi liderado pelo médico Tom Schweizer, diretor do Programa de Neurociência do Hospital de St. Michael.
Segundo o estudo, em times colegiais americanos, 62,7% dos jogadores avaliados já haviam sofrido sintomas de concussão durante um jogo. No entanto, apenas 19,2% perceberam o problema. Goleiros e jogadores de defesa são os mais expostos à riscos.
As concussões também representam 15% do total de abalos cerebrais registrados em atividades esportivas. No total, aponta a pesquisa, 41,1% das lesões moderadas resultam do choque da cabeça com cotovelos, braços e mãos; e 58,3% ocorrem em dias de disputa de algum título.
Sem alarmismo
Para Claudio Gil de Araújo, diretor médico da Clinimex, especializada em medicina do esporte, esses números não devem causar espanto. Ele ressalta que não existe risco zero em qualquer atividade esportiva e que o histórico do futebol, especialmente no Brasil, não está relacionado a grandes traumas cerebrais.
— O que é importante ser feito é minimizar esses riscos, ao mesmo tempo em que se maximizam os benefícios desta atividade esportiva. Nosso cérebro está flutuando dentro de uma camada líquida. Ele sabe se proteger bem — assegurou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário