É inegável que a preparação física é um dos pontos mais importantes do futebol contemporâneo. No caso do Vasco, o ano de 2011 foi extremamente exigente, e se não houvesse um bom trabalho físico, talvez a equipe não fosse tão bem sucedida. Desde a chegada da atual comissão técnica, o responsável por esta área é
Rodrigo Poletto, que, nesta entrevista exclusiva ao
Ao Vasco, Tudo! fala sobre métodos de avaliação física, novas tendências do futebol, Diego Souza, Felipe, Juninho, dentre vários outros assuntos.
Ao Vasco, Tudo!:
É sabido que, atualmente, há testes específicos para demonstrar qual o nível de desgaste muscular dos jogadores. Quais são estes testes e qual a periodicidade com que eles são feitos no Vasco?
Rodrigo Poletto: Esse tipo de avaliação é feita sempre após os jogos e também durante a semana, quando a carga de treinamento é elevada. Através de coleta sanguínea, o aparelho analisa a enzima CK, que nos fornece um índice; quando elevado, isso representa que o atleta apresenta um nível de fadiga que exige controle da carga de trabalho naquela sessão de treino até que o índice seja normalizado.
AVT: Fala-se muito sobre a necessidade de bom condicionamento físico de Diego Souza para que ele jogue em alto nível. Você acha que ele ainda não chegou ao seu ápice físico nesta temporada ou ele já se encontra na sua melhor forma?
RP: Diego Souza é um atleta que tem um biótipo grande, e necessita sempre trabalhos específicos para que se mantenha em sua forma ideal. Ele tem feito todos os treinamentos desde a pré-temporada, sem nunca ter qualquer tipo de lesão. Acontece que, quando ele entra em uma maratona grande de jogos e não tem tempo para fazer treinamentos específicos, sua performance pode oscilar.
AVT: O índice de lesões e problemas de saúde diversos (tais como mal súbito, por exemplo) tem crescido gradativamente no futebol. Você acha que os jogadores estão preparados para o desgaste que o esporte exige atualmente? Não há um exagero na busca desenfreada pela melhor forma física?
RP: Acredito que não. Hoje temos excelentes profissionais de preparação física e fisiologia atuando diretamente nos controles de cargas de trabalho. O futebol evoluiu, se tornou mais rápido, exigindo jogadores velozes e fortes. Os campeonatos também têm um calendário de muitos jogos, portanto o que deve ser cobrado pelos profissionais e clubes são avaliações medicas periódicas e, nesse ponto, acredito que muitos clubes deixam a desejar… Todos os atletas, incluindo categorias de base, devem se submeter a avaliações médicas periódicas para controle das atividades físicas, evitando assim qualquer problema de saúde.
AVT: Técnicos como José Mourinho defendem a não-segregação do treinamento no futebol. Ou seja, a preparação física não deveria ser feita separadamente, mas sim, em conjunto com a preparação técnica, tática e psicossocial, visando a melhor interpretação do jogo por parte dos atletas. Você concorda com esta visão? Acha possível que isso seja aplicado ao Vasco em um curto espaço de tempo?
RP: Acredito que sim. Estive na Europa trabalhando no Dínamo de Moscou e conversei com profissionais que utilizam essa metodologia. Também estive em cursos com auxiliares do Mourinho sobre esse tema. Essa é a metodologia que estamos aplicando no Vasco… implantamos na pré-temporada e o resultado tem sido excelente. Normalmente as equipes demoram para conseguir chegar a um condicionamento físico ideal no inicio do ano; com essa metodologia já iniciamos o ano muito bem, tanto que nosso resultado no primeiro turno foi muito bom, chegamos à final de forma invicta.
AVT: Fale-nos sobre a integração entre a preparação física e a fisiologia. Qual a sua importância e como ela se dá no Vasco?
RP: Temos um departamento de fisiologia integrado à preparação física, mas não é somente esse. Acredito que todas as áreas do clube devem ser integradas, senão o futebol não funciona. Você pode ter excelentes profissionais em um clube, mas se eles não trabalharem de forma conjunta, não dará certo.
AVT: Criou-se um mito de que os clubes cariocas têm estruturas muito fracas na comparação com outros estados do Brasil. Especificamente sobre o Vasco, você sentiu alguma dificuldade? Acha que o clube ainda precisa se desenvolver em determinados pontos?
RP: Acredito que o Vasco evoluiu muito desde o inicio do ano passado até hoje em termos de estrutura. Hoje temos laboratório de fisiologia e musculação excelentes; fisioterapia, departamento médico e vestiário também estão em ótimas condições. Em termos de estrutura, o Vasco necessita ainda campos suplementares. Essa é a maior dificuldade atualmente. Também deve melhorar condições de alojamento e refeitórios. O clube continua evoluindo, dando condições para desenvolvimento profissional em todos os setores e esse é o caminho para o clube moderno.
AVT: Fale-nos um pouco sobre como é feito o trabalho com Felipe e Juninho, especialmente este último. Eles podem ser expostos à mesma carga de treinamentos e jogos dos outros atletas do elenco, ou precisam de programas específicos para que possam render o seu máximo? Em caso positivo, como isto é feito?
RP: Os dois atletas têm programas específicos de treinamento, o trabalho é individualizado. São atletas que necessitam de trabalhos de força e muitas vezes não participam dos trabalhos com o restante do grupo. Mas são esses trabalhos que prolongam a carreira dos atletas e evitam lesões musculares. Conseguimos atingir nossos objetivos, já que ambos estão apresentando excelente performance e nenhum tipo de lesão muscular.
AVT: Alguns clubes no Brasil (caso do São Paulo, por exemplo), apostam em uma comissão técnica permanente. Você acha que os clubes deveriam investir nesse tipo de estruturação?
RP: A continuidade dos profissionais em todos os setores ajuda no desenvolvimento e entendimento facilitado de todas as áreas. Quando a comissão técnica está bem integrada, facilita a aplicação dos treinamentos. Portanto, a mudança prejudica principalmente os atletas que recebem essas cargas de trabalho. Infelizmente nossa cultura prefere apostar em resultados imediatos e muitas vezes não em trabalho de bons profissionais. O prejudicado é o futebol.
AVT: Você foi contratado junto com Ricardo Gomes em 2011. Sua permanência no Vasco depende da manutenção da comissão técnica ou a idéia da diretoria é tê-lo como preparador físico do Vasco independentemente do técnico?
RP: Tenho contrato de trabalho anual, com possibilidades de prorrogação sempre no final de cada contrato. A diretoria não conversou comigo sobre outra possibilidade.
AVT: O Vasco enfrenta (e certamente seguirá enfrentando) uma maratona bastante desgastante de jogos e viagens, que interferem diretamente o trabalho dos profissionais de campo. Como você lida com este tipo de situação?
RP: Essas situações são programadas durante a elaboração do microciclo semanal. E estão diretamente associadas às cargas de trabalho. Devemos ter atenção com todos os desgastes durante as viagens, jogos e treinos. A recuperação física é tão importante quanto o treinamento. Por isso temos avaliações de controle, suplementações alimentares e outros fatores que ajudam na recuperação física.
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