Introdução
Recentemente, o treinamento funcional vem conquistando seu espaço dentro de
academias e de forma personalizada devido a sua forma de aplicação e por
auxiliar as pessoas nas suas funções cotidianas. No entanto, esta metodologia
de treino não é recente, pois, de acordo com Dias (2011) o treinamento
funcional originou-se com os profissionais da área de
fisioterapia, já que estes foram os pioneiros no uso de exercícios que
simulavam o que os pacientes faziam no seu dia-a-dia no decorrer da terapia,
permitindo, assim, um breve retorno à sua vida normal e as suas funções
habituais após uma lesão ou cirurgia. Dessa forma, foi fundamentado no
sucesso obtido na sua aplicação na reabilitação que o programa de
treinamento funcional passou a ser empregado em programas de condicionamento
físico, desempenho atlético, bem como para minimizar possíveis lesões
(PRANDI, 2011).
Sabe-se que o treinamento funcional está amparado na proposta de melhoria de
aspectos neurológicos que conduzem a capacidade funcional do corpo humano,
empregando exercícios que estimulem os diferentes componentes do sistema
nervoso, gerando, dessa forma, sua adaptação (SILVA, 2011; CAMPOS e CORAUCCI
NETO, 2004).
De acordo com Clark (2001 apud DIAS, 2011), os movimentos funcionais
referem-se a movimentos associados, multiplanares e que abrangem redução,
estabilização e produção de força; ou seja, os exercícios funcionais
referem-se a movimentos que empregam mais de uma fração corporal
simultaneamente, podendo ser realizado em diversos planos e envolvendo diversas
ações musculares (excêntrica, concêntrica e isométrica). Em outras
palavras, o treinamento funcional trabalha movimentos, e não músculos
isoladamente, envolvendo, dessa forma, todas as capacidades físicas –
equilíbrio, força, velocidade, coordenação, flexibilidade e resistência -
de forma integrada por meio de movimentos multiarticulares e multiplanares e no
envolvimento do sistema proprioceptivo, este último, de acordo com Ribeiro
(2006 apud SILVA, 2011) relacionado com a sensação de movimento
(sinestesia) e posição articular, sendo que, dentre as principais funções
deste sistema, estão a manutenção do equilíbrio, a orientação do corpo e a
prevenção de lesões.
Desta forma, percebe-se que o treinamento funcional envolve movimentos
específicos para o desenvolvimento das atividades da vida diária do
indivíduo. Sendo assim, esta metodologia de treino possibilita a todos os
públicos o bom condicionamento das capacidades físicas, tornando-se possível,
assim, atingir a excelência no desempenho.
Objetivos
do treinamento funcional
Como já foi dito anteriormente, o treinamento funcional explora não somente os
músculos, mas também os movimentos, este último, com maior enfoque, para que
a produção de movimento pelo indivíduo seja de forma eficiente.
O principal objetivo do treinamento funcional é promover um resgate da aptidão
pessoal do indivíduo utilizando-se de um planejamento individualizado e
personalizado, independente do seu grau de condição física e das atividades
que ele desenvolva, usando exercícios que incluem atividades específicas do
indivíduo e que transferem seus ganhos de forma eficaz para o seu cotidiano.
Portanto, o trabalho com o treinamento funcional propõe utilizar-se de todas as
capacidades físicas do indivíduo e aprimorá-las, sendo que este treinamento
ocorre de forma integrada, pois o treinamento funcional vê o corpo humano de
forma complexa (SILVA, 2011; D’ELIA; D’ELIA, 2005 apud RIBEIRO,
2006, p. 17).
Para Dias (2011), o treinamento isolado proporciona resultados em termos de
ganho de massa muscular e força, pois admite, em sua forma de treinamento, que
ocorra fadiga muscular; contudo a metodologia do treinamento funcional
aproxima-se mais dos movimentos reais, ou seja, dos movimentos realizados de
forma habitual e que abrangem a conexão entre os movimentos. Deste modo, esse
aspecto atende ao princípio da especificidade, um dos mais importantes
princípios do treinamento.
Desta forma, nota-se como característica do treinamento funcional um maior grau
de liberdade de execução dos movimentos, já que é admissível realizar
movimentos em diversas magnitudes, sobretudo se comparados aos exercícios da
musculação tradicional. Segundo a literatura é possível apontar o
treinamento funcional como flexível e ilimitado, pois apresenta infinitas
adaptações. A realização de movimentos múltiplos planos também é apontada
como uma das características deste método de treinamento, já que as
atividades funcionais acontecem geralmente em três planos e demandam da
aceleração, desaceleração e estabilização dinâmica (DIAS, 2011).
Metodologias
do treinamento funcional (TF)
Dentro do TF podemos verificar as diversas abordagens no que se refere a
metodologias. Shimizu (2011) aponta que, atualmente em nosso país, existem
três linhas metodológicas que são utilizadas dentro de um TF, que são: TF
para a especificidade esportiva; TF baseado no pilates, possuindo como foco o
treinamento do CORE e, por ultimo, TF baseado em exercícios integrados para
melhoria das capacidades funcionais. Desta forma, cabe ao professor de
Educação Física que for prescrever os treinos saber qual das três linhas de
trabalho são a mais adequada para as necessidades, funcionalidades e objetivos
de seu aluno.
Neste trabalho abordaremos as metodologias propostas por D’Elia e D’Elia
(2005) e Monteiro e Evangelista (2010).
A seguir, apontamos a metodologia de D’Elia e D’Elia (2005):
-
Transferência de treinamento: Onde o grau de similaridade e equiparação entre os exercícios utilizados no treinamento físico funcional sejam próximos aos movimentos utilizados no cotidiano, pois, quanto maior for este grau, maior será a permuta dos resultados obtidos para a atividade em questão.
-
Estabilização: Com o treinamento funcional o atleta recruta mais a musculatura estabilizadora, na qual o individuo aproveita da estabilidade para conservar o exercício em pratica através do equilíbrio.
-
Desenvolvimento dos padrões de movimentos primários: No treinamento funcional, sete movimentos são considerados como movimentos-chave, sendo também considerados como movimentos necessários para a sobrevivência humana e para a performance esportiva, que são: agachar, avançar, abaixar, puxar, empurrar, girar e levantar.
-
Desenvolvimento dos fundamentos de movimentos básicos: existem quatro tipos principais de movimentos básicos dentro do TF, que são, habilidades locomotoras (como andar, correr...), habilidades não-locomotoras ou de estabilidade (como virar-se, torcer, balançar...), habilidades de manipulação (como arremessar, chutar, agarrar...), consciência de movimento (que corresponde a percepção e resposta às informações sensoriais necessárias para executar uma tarefa). Estes quatro movimentos básicos podem ser empregados em quaisquer modalidades esportivas e atividades cotidianas.
-
Desenvolvimento da consciência corporal: O treinamento funcional desenvolve diversos aspectos desta consciência, pois provoca o indivíduo em diferentes posições e tarefas, as quais fazem com que o mesmo se compreenda com mais seriedade.
-
Desenvolvimento das habilidades biomotoras fundamentais: O desenvolvimento da força, do equilíbrio, da resistência, da coordenação, da velocidade e da flexibilidade é indispensável, sendo que uma habilidade raramente domina um exercício. Sendo assim, na maioria das vezes, o movimento se origina de uma combinação de uma ou mais habilidades. Dessa forma, o treinamento funcional desenvolve as habilidades de acordo com a seriedade de cada uma delas no esporte ou na atividade específica, abrangendo também a fase de treinamento no qual o indivíduo se encontra
-
Aprimoramento da postura: A postura influencia muito na capacidade e qualidade de movimento e equilíbrio. Sendo assim, o treinamento funcional pratica tanto a postura estática (que corresponde a posição em que o movimento começa e termina) quanto a postura dinâmica (capacidade do corpo de alimentar o eixo de rotação durante todo o movimento).
Outra
metodologia aqui estudada é a apontada por Monteiro e Evangelista (2010), onde,
para os autores, uma metodologia de treinamento só pode ser considerada como
funcional se o aluno apresentar as seguintes características:
-
Desenvolvimento de capacidades biomotoras ressaltantes - que são: força, resistência, potência, flexibilidade, coordenação, equilíbrio, agilidade e velocidade;
-
Padrão de movimento comparável a reflexos, ou seja, quando o corpo gera um conjunto de ações reflexas para manutenção da postura quando em superfícies estáveis e/ou instáveis;
-
Sustentação do centro de gravidade sobre sua base de suporte como componente postural estático e dinâmico;
-
Compatibilidade com um programa motor generalizado, ou seja, os exercícios considerados como funcionais utilizam movimentos que têm alta transferência para o trabalho ou esporte;
-
Compatibilidade de cadeia aberta/fechada - a seleção do exercício pelo treinador deve ser em função do tipo de cadeia cinética, para que o recrutamento dos músculos e o movimento das articulações sejam específicos em relação a tarefa desempenhada;
-
Isolamento para integração, ou seja, treinar a musculatura para que ela colabore na realização de um movimento funcional.
Podemos
perceber que ambas metodologias apresentadas acima são semelhantes no que se
refere a desenvolvimento de capacidades biomotoras importantes nesta metodologia
de treinamento, bem como no centro de gravidade do corpo (CORE) e no
recrutamento sincronizado dos músculos para o bom desenvolvimento da função
desempenhada na vida diária do indivíduo.
Core
Training
De
acordo com Prandi (2011), como elemento do treinamento funcional temos o Core
Training, que é o treinamento da região central do corpo.
Para Alencar e Matias, 2009; Monteiro e Evangelista, 2010; Santos et al
2009 (apud Calvo et al. 2011), o Core se refere ao conjunto
de músculos que controlam e oferecem estabilidade aos movimentos da pelve e da
coluna lombar, podendo ser identificado como o complexo lombo-pélvico,
contendo, aproximadamente, 29 músculos. Logo, entende-se que o Core se
refere a um programa de treinamento que visa o fortalecimento da região do
corpo onde se localiza o centro de gravidade e o centro de força, e é nessa
região que todos os movimentos que realizamos têm início. Dessa forma,
para Prandi (2011) Torna-se evidente que o fortalecimento do CORE possui
bases teóricas no tratamento e na prevenção de várias condições músculo
esqueléticas.
Quando
procuramos no dicionário o significado da palavra CORE, encontramos como
significado núcleo (LONGMAN, 2002); logo, podemos entender por CORE como
o mesmo que núcleo do corpo. Deste modo, tendo um núcleo fortalecido cria-se a
estabilização imprescindível para o treinamento funcional a partir do qual os
músculos possam realizar a contração (PRANDI, 2011).
De
acordo com Alencar e Matias, 2009; Monteiro e Evangelista, 2010; Santos et.
al 2009 (apud Calvo et al., 2011) o Core Training traz
uma proposta individualizada nos programas de treinamento convencionais. A
aplicação deste método visa estabilizar os músculos do Core e
preparar a postura do indivíduo para se sujeitar as atividades cotidianas e
práticas esportivas. Ou seja, um dos alicerces dessa prática reside no
treinamento de grupos musculares do complexo lombo-pélvico para determinadas
finalidades específicas. Consequentemente, as atividades funcionais propostas
pelo método exigem a conservação do alinhamento postural e do equilíbrio
dinâmico entre as diferentes estruturas do corpo. Logo, o benefício dessa
metodologia de treinamento é a conquista de um sistema integralmente
desenvolvido, promovendo seu funcionamento de maneira eficaz.
A
estabilização do CORE ou core stability é abordada na
literatura de medicina do esporte como competência de controle motor e
produção força muscular da coluna lombar, da musculatura pélvica e do
quadril (LEETUN et al., 2004). Sabe-se que o CORE atua como uma unidade
funcional unificada, através do qual toda a cadeia cinética opera
sinergicamente para produzir força e estabilizar dinamicamente contra uma
força atípica. Dessa forma, o controle do centro de força promove o
alinhamento e o equilíbrio postural dinâmico no decorrer das atividades
funcionais com um menor gasto energético. Dessa forma, um CORE eficaz promove a
manutenção de relações excelentes de comprimento-tensão dos músculos
agonistas e antagonistas do movimento, os quais permitem a manutenção de
relações excelentes de forças vinculadas no complexo lombo-pélvico. Isso
determina uma boa cinética articular durante movimentos funcionais e eficácia
neuromuscular em toda a cadeia cinética, promovendo o equilíbrio de toda a
cadeia muscular na execução de movimentos integrados (MONTEIRO e EVANGELISTA,
2010).
Treinamento
de força tradicional e TF: comparativo entre as metodologias
De
acordo com Geraldes (2003 apud FARIAS e RODRIGUES, 2009), o treinamento
de força, treinamento contra a resistência, treinamento resistido ou
musculação são termos geralmente usados para apresentar a diversidade de
meios e métodos de treinamento de força, resistência ou potência muscular e
eventos de fisiculturismo ou levantamentos de peso. O treinamento de força não
somente abrange o levantamento de pesos, como também, o uso de resistências em
máquinas ou elásticos.
Para
Porter et al. (1995 apud TAGLIARI, 2006) o Treinamento Resistido
compreende a uma submissão do sistema neuromuscular a aplicação de uma
sobrecarga progressiva utilizando das contrações musculares próximas a
máxima contra uma alta resistência. Possui como finalidade aumentar a
habilidade em realizar contrações máximas ou aumentar a área de secção
transversa da fibra muscular.
Ainda,
de acordo com Fleck e Kraemer (1999 apud TAGLIARI, 2006), o treinamento
resistido pode ser definido como treinamento de resistência invariável ou
isotônico, onde a resistência é mantida de forma constante no decorrer da
execução da ação muscular excêntrica e concêntrica. De forma geral, o
treinamento resistido é aplicado seguindo um dado numero de series e
repetições, em um percentual de intensidade que pode ser denominado a partir
do teste de 1RM com distintos tempos de pausa, direcionando o treinamento para o
desenvolvimento das diversas modalidades de força. Além disso, o treinamento
resistido pode ser aplicado em forma de circuito ou como treinamento
concorrente.
Godoy
(1994 apud RIBEIRO, 2006) aborda o treinamento resistido como sendo a
atividade física executada de forma predominante por meio de exercícios
analíticos, utilizando resistências progressivas providas por recursos
materiais, tais como: halteres, barras, anilhas, aglomerados, módulos,
extensores, peças lastradas, o próprio corpo e/ou segmentos, entre outros.
Segundo
Aaberg (2002), o treinamento resistido tem se tornado um dos treinos mais
populares em nosso cotidiano. No entanto, antigamente somente alguns atletas
utilizavam este tipo de metodologia por haverem crenças de que o aumento da
massa muscular poderia influenciar na perda da flexibilidade. Mas, com o
crescente avanço em pesquisas na área, atletas e treinadores foram percebendo
os benefícios que algumas metodologias de treinamento poderiam trazer a seus
atletas. Porém, de acordo com o autor, não é possível afirmar que o
treinamento resistido vá de fato aumentar o desempenho atlético do atleta por
acreditar na individualidade biológica de cada um (AABERG, 2002).
Ainda,
de acordo com Aaberg (2002), alguns dos principais benefícios do treinamento
resistido são:
-
Aumento da performance em esportes que exijam do aluno/atleta mais força, potencia, controle e resistência física;
-
Significativa redução do percentual de gordura corporal;
-
Auxilia o corpo no combate a ação da gravidade e impede adaptações posturais e funcionais provocadas pela atração constante da Terra a qual estamos expostos diariamente;
-
Desenvolve importante papel no controle a doenças crônicas como Diabetes, Artrite, entre outras.
No
entanto, a estabilidade das superfícies usualmente utilizadas na execução de
exercícios no treinamento tradicional (musculação) pode provocar a
diminuição da produção de força e potência durante a execução de séries
em superfícies estáveis (McBRIDE et al., 2006 apud MONTEIRO e
EVANGELISTA, 2010). Dessa forma, Monteiro e Evangelista (2010) formularam uma
tabela comparando os benefícios do treinamento em superfícies estáveis e
instáveis.
Tabela
1. Comparação de benefícios do treinamento funcional em superfícies
instáveis x superfícies estáveis (MONTEIRO e EVANGELISTA, 2010)
Variável
|
Estáveis
|
Instáveis
|
Força
e estabilidade do “Core”
|
↓
|
↑
|
Ativação
de agonistas
|
↑
|
↓
|
Co-ativação
de antagonistas
|
↓
|
↑
|
Produção
de força
|
↑
|
↓
|
Produção
de potência
|
↑
|
↓
|
Melhora
na propriocepção
|
↓
|
↑
|
Reabilitação
de dores lombares
|
↓
|
↑
|
Performance
esportiva
|
↑
|
???
|
Fonte:
Monteiro e Evangelista (2010)
Atualmente,
a instabilidade tem sido vista como uma grande ferramenta das novas metodologias
para promover aumento do recrutamento da musculatura. Dessa forma, os treinos
passaram a utilizar cada vez mais suportes instáveis, tais como: bolas, bosu
(meia bola com uma superfície reta de um dos lados), plataformas de
instabilidade, discbol, entre outros.
De
acordo com Osti (baseado na entrevista do professor Julio Serrão, laboratório
de biomecânica da Universidade de São Paulo, 2011), com esta metodologia de
treinamento, percebe-se melhora na força do core, conjunto de
músculos do centro do corpo, o tórax, como os músculos do abdome e
sustentadores da coluna vertebral; porém, segundo o professor, o que provoca um
maior ganho muscular é a combinação de estímulos diferentes, onde entra o
treinamento funcional.
A
principal vantagem dos treinamentos fundamentados na instabilidade é o ganho de
propriocepção, que ocorre mesmo em atletas. Entende-se por propriocepção
como a capacidade de percepção do próprio corpo e correção automática de
movimentos indesejados. Sendo assim, o treinamento desta aptidão é essencial
para todos em seu cotidiano, mais ainda, torna-se primordial para atletas, que
para conseguirem obter bons resultados, precisam de treinos com desequilíbrios
maiores (OSTI, 2011). Seguindo esta linha de raciocínio, Sparkes (2009 apud
PORTELA, 2010), expõe que o treinamento em superfícies instáveis para atletas
assume caráter de extrema importância por levar em conta que esta metodologia
promove melhorias na performance atlética quando os exercícios imitam
precisamente os movimentos desportivos, atendendo, dessa forma, ao princípio da
especificidade do treino.
As
musculaturas do abdome e das costas possuem como função a estabilização do
corpo. Dessa forma, ela é mais sensível ao treinamento com instabilidade como
o treino funcional. Então, ao se incluir elementos de instabilidade, é
possível aumentar o recrutamento dessas musculaturas estabilizadoras. Desta
forma, os exercícios abdominais feitos sobre uma bola suíça, por exemplo,
despontam resultados melhores que os mesmos exercícios realizados numa
estrutura lisa, pois a musculatura abdominal é estabilizadora e, ao trabalhar
em uma superfície de desequilíbrio, necessita recrutar mais fibras para
realizar o mesmo movimento. Já a musculação feita com os aparelhos
tradicionais restringe a instabilidade para tolerar uma maior carga de trabalho,
fortalecendo a musculatura, mas não provoca benefícios na musculatura
estabilizadora e na propriocepção (OSTI, 2011). No entanto, o autor concorda
que a musculação seja uma metodologia ideal para trabalhos com iniciantes que
necessitam aprender os movimentos e fortalecer a musculatura.
Para
finalizar, no que se refere ao treino com pesos livres, como anilhas e halteres,
Osti (2011) sugere que este tipo de treinamento permite uma maior instabilidade,
com um trabalho considerável de costas e abdome para estabilizar certos
movimentos, o que muitas vezes não permite pesos tão altos quanto o dos
aparelhos. Já os treinos funcionais pregam maior instabilidade, privilegiando a
musculatura estabilizadora.
Considerações
finais
Diante
das informações expostas acima, podemos concluir que o treinamento funcional e
o treinamento resistido possuem benefícios e podem ser exploradas juntas, onde
cada metodologia trará ao executor (aluno ou atleta) acréscimos ao seu
vocabulário motor, sendo aplicadas em diferentes estágios de evolução do
aluno. No entanto, podemos perceber que a metodologia funcional vem, dia-a-dia,
conquistando mais adeptos devido aos desafios propostos tanto para o aluno
quando para o profissional de Educação Física no que se refere a equipamentos
e execução de exercícios, proporcionando ao aluno maiores ganhos de
propriocepção corporal, fortalecimento do CORE, dentre outros.
É
inegável que a funcionalidade sempre esteve presente em
todos os momentos da evolução humana. O homem sempre necessitou realizar com
eficiência as tarefas do dia-a-dia, garantindo, dessa forma, a sobrevivência
em situações muitas vezes adversas. Porém, com a evolução tecnológica, a
facilidade e o conforto para a realização de ações que antes eram
essencialmente físicas tornaram o homem menos funcional (CAMPOS e CORAUCCI
NETO, 2004).
O
treinamento funcional representa uma nova metodologia de condicionamento,
norteada pelas leis basais do treinamento e amparada cientificamente por meio de
pesquisa e referências bibliográficas em todos os seus pontos principais e,
sobretudo, avaliadas extensivamente nas salas de treinamento, onde foi possível
definir suas linhas básicas. No entanto, a essência do treinamento funcional
está fundamentada no progresso dos aspectos neurológicos que comprometem a
capacidade funcional do corpo humano através de treinos estimulantes que
desafiam os vários componentes do sistema nervoso e, por isso, geram sua
adaptação (CAMPOS e CORAUCCI NETO, 2004; D’ELIA e D’ELIA, 2005).
Dessa
forma, entende-se que o treinamento, seja resistido, seja funcional, gerarão
adaptações positivas ao organismo do praticante, desde que estes sejam
abordados de forma a atender aos princípios do treinamento, cada um dentro das
suas características, possibilitando ao praticante melhor qualidade de vida.
Referências
bibliográficas
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OSTI, Leandro. Treinar em cima de superfícies instáveis não melhora a força muscular. Disponível em: http://acidolatico.wordpress.com/2011/09/18/treinar-em-cima-de-superficies-instaveis-nao-melhora-a-forca-muscular/ Acesso em 15/08/2012.
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TAGLIARI, Mônica. Alterações Morfo-funcionais decorrentes de diferentes Treinamentos com Ginástica Localizada na faixa etária de 20-35 anos. Tese (Pós-Graduação), Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2006.
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