sexta-feira, 5 de setembro de 2014

OS AMINO-ÁCIDOS ISOLADOS E SEUS BENEFÍCIOS FISIOLÓGICOS

No último congresso do Colégio Americano de Medicina Esportiva, dentre inúmeras novidades, um dos assuntos que mais chamou a atenção foi o grande número de trabalhos científicos apresentados sobre os efeitos dos amino-ácidos isolados.
Os benefícios de determinados aminoácidos já são utilizados como estratégias da nutrição esportiva. É importante  ressaltar mais uma vez que amino-ácidos são nutrientes e não podem ser confundidos com medicamentos ou drogas proibidas pela legislação esportiva.
No congresso foram apresentados trabalhos enfatizando principalmente os benefícios de três amino-ácidos: Arginina, Leucina e beta-Alanina.
A arginina é um precursor  da síntese do óxido nítrico, que tem um importante papel na regulação do fluxo sanguíneo muscular durante o exercício. A suplementação de arginina apresenta evidências científicas de melhorar a resistência, tanto por proporcionar melhor oxigenação dos músculos, como por proporcionar uma remoção mais eficiente dos metabólitos produzidos durante o exercício.
A Leucina, que é um dos chamados amino-ácidos de cadeia ramificada ou BCAA, acumula cada vez mais evidências de ser um importante nutriente para reparação do dano muscular provocado pelo exercício intenso. Sua suplementação tem uma indicação importante principalmente no pós-exercício, quando a reparação dos micro-traumas é uma das prioridades para o tecido muscular.
A beta-Alanina, talvez seja considerada o amino-ácido com evidências mais recentes. Sua suplementação parece proporcionar um dos efeitos mais esperados pelos praticantes de exercícios. A administração de beta-Alanina aumenta a síntese de carnosina que é um eficiente neutralizador do ácido-láctico. Nos trabalhos apresentados ficou muito evidente o benefício que a suplementação deste nutriente proporcionava, possibilitando significativa melhora de desempenho por capacitar o organismo a utilizar mais energia anaeróbica. Como se sabe, o ácido láctico limita a intensidade do exercício, e sua maior neutralização proporciona um benefício importante na melhora da performance.
O uso destes recursos nutricionais ergogênicos tende a ser cada vez mais difundido em benefício de quem busca melhora de desempenho físico e também promoção de saúde pela vida ativa, entretanto deve ser sempre orientado por um profissional capaz de adequar sua devida indicação.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Dano celular e dor muscular de início tardio!

A prática regular de atividade física, principalmente o exercício físico bem orientado é sem dúvida alguma um importante componente para manter a saúde, ou ainda, aditivamente no tratamento de diversas patologias, como algumas doenças cardiovasculares, metabólicas e ósteo-músculo-articulares. Porém, o início da prática de exercícios físicos pode vir acompanhado de dores musculares no dia seguinte, denominado de dor muscular de início tardio (DMIT, e em inglês Delayed Onset Muscle Soreness [DOMS]), esta tem início nas primeiras oito horas após a sessão da atividade física, atingindo o seu pico nas 24 ou 48 horas no grupo muscular treinado.

A etiologia da DMIT ainda não está bem definida, porém existem diversos fatores relacionados ao surgimento dessa, como o dano celular muscular, a inflamação (i.e. aumento de PGE2, edema), o aumento do estresse oxidativo (radicais livres) e o espasmo muscular (i.e. isquemia e acúmulo de metabólitos). O surgimento da DMIT é mais frequente em indivíduos pouco ativos e sedentários, ou ainda quando realizamos treinos, exercícios ou movimentos (principalmente em contrações excêntricas, e.g. descer uma longa escadaria) que não estamos acostumados, portanto, o começo de um treinamento físico geralmente é acompanhado de uma sensação dolorosa na musculatura exercitada, muito sensível à palpação, acompanhado também de edema, aumento da atividade enzimática no sangue de proteínas como a creatina quinase (CK) ou lactato desidrogenase (LDH) e com a diminuição da flexibilidade e força. Pode parecer um quadro desanimador para a saída do sedentarismo, e início de uma vida mais ativa fisicamente, porém vale apena ressaltar que o quadro é transitório, alguns pesquisadores na área inclusive denominam como “microtrauma adaptativo”, o que torna o indivíduo treinado menos susceptível a DMIT e ao dano muscular.

Uma das causas mais relacionadas à DMIT é o dano ou lesão da célula muscular, que é caracterizado pelo rompimento da membrana (sarcolema), onde há o extravasamento do seu conteúdo intracelular para o extracelular, esse pode ser medido no pelo aumento da atividade de CK e LDH, e a concentração de mioglobina e troponina no sangue. Esse dano pode ser causado pela alta da carga de treino, contrações musculares vigorosas e/ou volumosas, principalmente as excêntricas, onde as estruturas miofibrilares não suportam o estresse mecânico, gerando um desarranjo nos sarcômeros (e.g. rompimento das linhas Z), e dano em diversas estruturas da fibra muscular, como retículo sarcoplasmático, túbulos transversos e sarcolema, consequentemente a capacidade de gerar força fica diminuída, o que atualmente é considerado um dos marcadores para o dano muscular.

Geralmente a DMIT está relacionada à intensidade do exercício, ou seja, o peso exagerado que é colocado na barra ou no equipamento de musculação, ou ainda na velocidade da corrida, porém o volume (quantidade) também é importante, o número de séries e repetições nos exercícios de musculação, ou a quantidade de quilômetros que um indivíduo corre quando demasiado também pode ser significativo para o surgimento da DMIT. Sendo assim, principalmente para um indivíduo pouco ativo fisicamente, o controle dessas duas variáveis é muito importante.

No início de um programa de exercício físico, evite nas primeiras semanas alta intensidade e alto volume, comece com pouco peso, e um baixo número de séries e repetições (e.g. 1 a 2 séries de 12 repetições), e aumente a carga de treino progressivamente, assim terá um começo menos dolorido e mais prazeroso.

Prof.Dr. Marco Carlos Uchida
Professor do Departamento de Estudos da Atividade Física Adaptada, FEF/UNICAMP