sábado, 19 de março de 2011

As análises de sangue no futebol

Deve haver uma seleção criteriosa de quais marcadores são mais importantes para aquele momento de coleta e para aquele momento da periodização
- Escolha do momento de coleta (antes, durante, imediatamente após, 24h, 48h após a sessão de treinamento?);
- Escolha do momento da periodização em que a coleta será feita (período preparatório, pré-competitivo, competitivo, transitório).
Vamos a eles!
Com relação ao momento de coleta, é de fundamental importância sua determinação prévia, pois isso acaba por determinar a interpretação que se faz dos marcadores sanguíneos e da condição de treinamento do referido atleta.
Coletas feitas de maneira muito próxima às sessões de treino, imediatamente antes e após, ou mesmo durante as sessões de treino, refletem a resposta ao estímulo, um fator agudo. Um exemplo: a análise da concentração de glicose na corrente sanguínea durante uma sessão de treino reflete o balanço entre a capacidade degradativa (glicogenólise e gliconeogênese hepática) e a capacidade de utilização (glicólise muscular) deste nutriente em questão. A priori, não é uma análise que busca diferenciar condições de treinamento ou aptidão física.
Já aquelas coletas feitas no período entre 24 e 72 horas após a última sessão de treino, considerando que o atleta está a descansar no referido período, buscam refletir a adaptação dos atletas, um fator crônico. Neste caso, se utilizarmos o mesmo exemplo citado acima, a análise da concentração de glicose na corrente sanguínea serviria para diagnosticar possíveis casos de diabetes ou resistência à ação da insulina, tendo em vista que o atleta está em repouso e, costumeiramente, em jejum de, no mínimo, oito horas.
Logo, a determinação dos momentos de coleta acaba por definir, diretamente, a interpretação que se faz do referido marcador. Outro exemplo que poderíamos citar aqui que faz parte deste contexto futebolístico é a aferição da concentração sanguínea de lactato. Um excelente marcador de metabolismo anaeróbio para ser coletado de maneira aguda, especialmente durante as sessões de treino. Porém, ao mesmo tempo, um marcador sanguíneo com pequena representatividade e significância quando analisado de forma crônica, por exemplo, 24 horas após o último estímulo de treinamento ou jogo.
Além desta preocupação quanto aos momentos de coleta, deve-se também atentar para o momento da periodização em que as coletas de sangue devem ser realizadas. Não existe receita de bolo ou regra para tal realização. O que deve existir é a relação das análises sanguíneas com o planejamento, ou seja, os momentos de coleta devem estar “casados” com momentos emblemáticos da periodização, como por exemplo: transição de mesociclos ou blocos, início e final da pré-temporada, início e final do período competitivo e/ou de transição. Enfim, a escolha destes momentos não deve ser, de forma alguma, aleatória. Isso coloca em xeque a qualidade e a importância das análises sanguíneas no estimado futebol.
Finalizando, que fique claro um detalhe: podem ser programadas inúmeras coletas de sangue ao longo de uma temporada, porém não há necessidade de se quantificar todos os marcadores sanguíneos em todos estes momentos. Deve haver, novamente, uma seleção criteriosa de quais marcadores são mais importantes para aquele momento de coleta e para aquele momento da periodização. Esse fator também deve ser considerado de forma a valorizar ainda mais esta ferramenta que tanto pode auxiliar fisiologistas e preparadores físicos a direcionar os rumos do treinamento futebolístico.

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