sábado, 19 de março de 2011

A CIÊNCIA DOS PEQUENOS JOGOS

Monitorando e conhecendo melhor os trabalhos em campo reduzido

Dentro de uma programação de treinos durante uma temporada no futebol,
podemos apontar muitos tipos de trabalhos, sendo que cada comissão técnica tem sua
identidade e sua metodologia que entendem como a mais adequada para aplicar sua
filosofia, esse é o momento em que o fisiologista, tendo conhecimento do trabalho da
comissão atual no clube, pode implantar formas de monitorar e controlar as variáveis
apresentadas na programação de treinos, ajudando a quantificar e a qualificar os
trabalhos, mas sempre respeitando a filosofia e a metodologia da comissão técnica, sem
querer alterar os trabalhos ou modificar seus métodos, e sim adaptar dentro do próprio
trabalho programado formas para alcançar o objetivo final, dando idéias e mostrando os
benefícios que pequenos ajustes irão trazer o trabalho.
“A monitoração dos trabalhos não é tão simples, pois o futebol é, entretanto um
tipo de exercício intermitente onde períodos curtos de alta intensidade são entremeados
com períodos mais longos de recuperação ativa ou passiva. Neste tipo de exercício não
é possível monitorar a intensidade da mesma forma como fazemos com exercícios
contínuos sem bola, por exemplo: um treino de corrida intervalada onde o tempo para
cobrir uma distância fixa pode ser facilmente registrado.” (Dr.Paul D.Balsom – 2000).
Nesses casos a fisiologia teve uma grande contribuição para o futebol, trazendo
para o campo diversas formas para tentar fazer os controles dos treinos mensurando e
obtendo informações de suma importância para o desenvolvimento dos trabalhos.
Um dos trabalhos aplicado no campo que iremos analisar agora é o “campo
reduzido” ou “pequenos jogos”.
“Pequenos jogos” é a técnica aplicável ao treinamento no desporto coletivo,
onde o uso de quadras ou campos de formato reduzido, combinado com um número
menor de jogadores e técnicas especiais, é empregado para obter maiores níveis de
condicionamento físico e capacidade técnica com bola.
A importância deste estudo, além de apontar os pontos positivos e negativos, é
mostrar que nem sempre o “campo reduzido” é sinônimo de um trabalho intenso como
muitos profissionais podem achar, depende muito da montagem, regras, dimensões
número de atletas programados para o desenvolvimento do trabalho.
Para iniciarmos este estudo precisamos saber informações importantes que
servirão para entender quais as exigências físicas impostas pelo jogo ao atleta para
relacionarmos com as variáveis necessárias para programarmos uma sessão de treino
com trabalhos em “campo reduzido”.
Entendendo as exigências do jogo
O futebol é uma forma de exercício muito exigente e extenuante fisicamente,
além de cobrir distâncias maiores que 10 km em velocidades variadas, outras atividades
que consomem energia incluem tomada de bola, pular e chutar.
Quando você joga futebol, grandes quantidades de energia são produzidas de
forma alternada, tanto pela via aeróbia tanto pela anaeróbia. “de um ponto de vista
puramente quantitativo a produção de energia anaeróbia corresponde a apenas uma
parte menor, mas significativa, do total de produção de energia durante um jogo”
(Dr.Paul.D.Balsom – 2000).
O nível de lactato sanguíneo no jogo é em média de 5 a 10 vezes maior do que
em repouso, mostrando que a energia foi produzida anaerobiamente.
Através de monitorações da freqüência cardíaca em jogos, mostrou que ela se
mantém de 10 a 30 BPM abaixo da freqüência cardíaca máxima, se aproximando dos
85% da FC máx. ficando em uma faixa entre 140 BPM e 145 BPM durante o jogo.
Podemos observar que o jogo impõe um alto nível de intensidade com trabalhos
intermitentes exigindo do atleta um bom condicionamento físico tanto central quanto
periférico para poder imprimir um alto ritmo de jogo com qualidade.

Trabalhos cíclicos e acíclicos
Com o passar dos anos pudemos ver a grande evolução em relação à preparação
física no futebol, sendo antes um trabalho mais de tradição e simplicidade com treinos
físicos normalmente de corrida e sem bola e passando por algumas fases para chegar
atualmente com trabalhos mais complexos que envolvem os treinos tradicionais
integrados com exercícios físicos com bola atingindo resultados mais específicos. Essa
linha segue com uma visão de programação de treinos envolvendo trabalhos cíclicos e
acíclicos de várias formas dentro de uma sessão de treino.
No trabalho cíclico (movimento repetido constantemente em forma de ciclos)
podemos exemplificar com os treinamentos físicos puros, nele trabalhamos os grandes
grupos musculares que é a base de sustentação da performance física do atleta.
O trabalho acíclico (movimentos sem padrão de repetição, em que não há ciclos)
é mais específico para a modalidade, normalmente realizado com pequenos jogos com
uma intensidade pré-programada.
Desta forma trabalhamos os pequenos grupos musculares e a musculatura de
propriocepção, dando ao atleta um ganho de resistência muscular localizada específica
de jogo.
Através de pesquisas e estudos, constatamos que o ganho de performance física
na forma cíclica é diferente do que o ganho na forma acíclica e que existem trabalhos e
ganhos diferentes para essas duas formas de performance.
Podemos ver que os programas de treinamentos físicos montados com treinos
cíclicos e acíclicos, obtiveram uma maior e mais prolongada da performance física
durante a temporada, já programas com apenas trabalhos cíclicos, observamos bom
condicionamento físico geral mas grande dificuldade de manter em atividades mais
específicas como treino reduzidos e intensos e nos jogos, em contrapartida, as
programações com apenas trabalhos acíclicos tiveram bom resultado nas capacidades
físicas específicas de jogo mas curto período de sustentação.
Constatamos que os trabalhos acíclicos são indispensáveis no programa de
treinamento, mas por trabalhar com mais ênfase os pequenos grupos musculares,
devemos também acrescentar os trabalhos cíclicos que são esses que darão a sustentação
e resistência muscular geral dos grandes grupos musculares.
Os pequenos grupos musculares, que são os mais específicos de jogo, têm seu
limiar de stress bem menor do que os grandes grupos musculares fadigando muito mais
rápido e necessitando dos grandes grupos para a sustentação da performance até o final
do período.
No início da temporada, os trabalhos cíclicos são de extrema importância, sendo
que depois são realizados trabalhos apenas de manutenção para a parte cíclica dando
espaço para os trabalhos acíclicos estruturados com os pequenos jogos, assim
completando o treinamento físico auxiliando o atleta a alcançar a excelência da
performance.

Treinamento físico específico – pequenos jogos
“A habilidade de um jogador de futebol em manter uma alta taxa de trabalho
durante um jogo de 90 minutos pode ser mantida e aperfeiçoada com o treinamento de
desempenho” (Dr.Paul D.Balsom).
O objetivo do treinamento específico é:
- Minimizar o tempo necessário para um jogador se recuperar entre exercícios
com movimentos de alta intensidade e, consequentemente, aumentar a capacidade de
desempenho de tais movimentos mais freqüentes ao longo do jogo.
- Reduzir os efeitos negativos da fadiga no desempenho geral, especialmente
próximo ao final do jogo.
Os pequenos jogos, sendo bem programados, trabalham o componente central
relacionado com o sistema de transporte de oxigênio e o componente periférico que
envolve os grupos musculares específicos exigidos no jogo.
Em relação ao componente periférico, podemos observar que exercícios
contínuos com intensidades moderadas trabalham mais fibras de contração lenta e
pequenos jogos ou treinos físicos específicos variando intensidades trabalham fibras de
reação rápida (exercício de alta intensidade). Os trabalhos longos se forem uma
constante na programação de treino e por terem uma predominância de fibras de reação
lenta, afetarão o desempenho específico do atleta como a “explosão muscular” e
“aceleração”.
Portanto o tipo de trabalho proposto é o que vai determinar o padrão e
recrutamento de fibras de reação lenta e rápida nos músculos ativos e o padrão de
condicionamento central e periférico.
Em alguns estudos científicos foi constatado que os pequenos jogos podem ser
usados de uma forma efetiva de treinamento de resistência para jogadores de futebol,
mas não é a única forma para trabalhar essa variável, esse treinamento pode e deve ser
complementado por diferentes tipos de exercícios intermitentes tanto com bola quanto
sem bola.
Os estudos constatam que a intensidade de trabalhos dos pequenos jogos é alta o
suficiente para manter ou até mesmo aperfeiçoar algumas variáveis mais específicas de
jogo e que os treinos físicos sem bola tem uma intensidade similar.
O treino físico com bola em pequenos jogos se torna mais efetivo para
adaptações musculares locais (periféricas) do que corrida contínua sem bola e trabalha
em conjunto com a parte técnica, coordenativa, criatividade, inteligência e motivação.
O estudo constatou que em 30 minutos de treinos físicos com bola (campo
reduzido – 3 x 3) o atleta toca aproximadamente 100 vezes na bola em diferentes
situações, 3 vezes mais do que trabalhos de campo reduzido de 7 x 7.
Apesar dos grandes benefícios do treinamento de resistência específica para
jogador de futebol com pequenos jogos, existem muitos fatores que podem influenciar
atrapalhando na intensidade do exercício, exigindo uma grande organização do
treinador, preparador físico e fisiologista. Alguns fatores são:
- número de atletas, quanto maior o número menor a intensidade e menos
contato com a bola
- duração dos intervalos
- dimensão do campo
- as regras influenciam na intensidade
- disponibilidade de bolas (reposição imediata)
A motivação pode influenciar na intensidade, podemos controlar como:
- definir claramente para os atletas o objetivo do treino
- mostrar a eles os benefícios
- monitorar o treino com GPS, freqüência cardíaca, etc.
- manter os pequenos jogos competitivos (equipes equilibradas)
- organizar as sessões de treino para não perder tempo para iniciar
Outros fatores que podem influenciar a intensidade do exercício:
- habilidade do jogador (pouca habilidade diminui a intensidade)
- recuperação entre as sessões de treinamento
- tempo para adaptação ao tipo de treinamento

2 comentários:

  1. Professor Rodrigo

    Embora tenhamos ideias diferentes quanto a hierarquia do treino no futebol, como percebo aqui na sua postagem, quero lhe parabenizar e agradecer pela imagem colocada no inicio da mesma.

    Nota-se que o momento de sucesso do Vasco da Gama não é obra do acaso, e sim de grande competência.

    Grande abraço
    mantemos contato

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  2. Valeu Luis, mantemos contato sim!!! grande abraço!!! acompanho seu blog tmbem, sempre muitas informaçoes excelentes!!!!

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