domingo, 22 de janeiro de 2012

Caracterização do jogo de Futebol




O futebol é um esporte que implica a prática de exercícios intermitentes, de intensidade variável (Ekblon 1993; Zeederberg et al 1996), onde aproximadamente 88% de uma partida envolvem atividades aeróbias e os 12% restantes, atividades anaeróbias de alta intensidade. (Shepard e Leat, 1987; Reilly, 1996), que são os momentos decisivos do jogo, portanto os mais importantes.
A movimentação do futebolista é complexa e variada e consiste em: andar, trotar, correr em velocidades média e alta, ficar parado, arrancadas explosivas, trocar de sentido e direção, disputar bola corpo a corpo, saltar, paradas bruscas, sustentar fortes contrações mantendo o equilíbrio e o controle de bola contra uma pressão adversária etc, onde andar representa 40,4%, posição estática 17,1%, corrida em intensidade baixa 35% e corrida em intensidade alta 8,1%, segundo estudos de Bangsbo et al (1991) e Mujika et al (2000).
DISTÂNCIA PERCORRIDA
A distância percorrida durante uma partida de acordo com Bangsbo dependerá da qualidade do oponente, nível de competição, tática, importância do jogo, motivação, tipo de grama e condições ambientais. Ainda segundo o mesmo autor, em partidas de alto nível, ocorrem mais ou menos 1100 trocas de atividades e a distância percorrida com a bola varia de 0,5 a 3% do total e a distância total percorrida varia menos de 1 km de uma partida para outra, sendo a maior variação1,7 km. No 2º tempo das partidas a intensidade do jogo reduz e a distância total percorrida diminui entre 5 a 10% comparado ao 1º tempo.
Com o significativo aumento da condição física no futebol, o desempenho total de corrida, em muitos casos cresceu 100% ou mais com o passar dos anos, e as exigências sobre o desempenho da resistência aeróbia aumentaram imensamente. Desde 1962 comprova-se um aumento médio anual de 10% na performance de corrida segundo Bauer (1990).
Conforme Dufour (1990), citado por Cometti (1999), em 90’ de jogo, apenas 60’ são de jogo. Desses 60’, os futebolistas de acordo com suas posições correm somente de 20 a 40% ou seja, de 12 a 24’, sendo uma média de 3 km de marcha e 7 km de corrida. Desses 7 km , 64% são de corrida lenta, aeróbia, 22% de corrida com ritmo médio anaeróbio (cerca 80% Vo2 máx, entre 10 e 17 Km/h) e 14% corrida alta intensidade (entre 18 e 27 Km/h).
Stolen et al (2005) no maior artigo de revisão acerca do futebol, verificou que jogadores de elite percorrem de 10 a 12 km por partida com média de 10 km, e os goleiros 4 km em média. A Premier League (Campeonato Inglês) apresenta distâncias de até 15 km (Rienzi et al. 2000).
Estudos de Onashi (1987), no campeonato japonês, em análise por vídeo apresentou os seguintes resultados por posição: defensores 9303 metros, meio-campo 11601 metros, atacantes 10387metros.
Bangsbo, também em análises por vídeo, no campeonato dinamarquês, verificou que os futebolistas percorrem em média 10,8 km, com mínimo de nove e máximo de 14 km, goleiros 4 km.
Turíbio (2002) em estudo com 1000 futebolistas profissionais do São Paulo F.C.em partidas oficiais por seis anos, chegou aos seguintes valores para o futebol brasileiro: zagueiros 8,8 km; laterais 9,5 km; volantes 9,5 km, meias 9,9 km, atacantes 8,2 km. Média de distância percorrida 9,3 km.
Os laterais, normalmente apresentam condicionamento físico acima da média, com capacidade aeróbia 15% maior em relação as demais posições , e percorrem maiores distâncias com bola (230 metros)
A distância percorrida pelos meio-campistas é significativamente maior que a dos zagueiros e atacantes em valores médios encontrados na literatura.
Os Futebolistas de meio-campo ficam parados por 14% do jogo, significativamente menos que os zagueiros 21,7% e atacantes 17,9% (Bangsbo et al, 1991), isso provavelmente por serem o elo entre a defesa e o ataque, o que requer mais tempo de corrida. Os meio-campistas percorrem grande parte da distância total durante o jogo em baixa intensidade e os atacantes a maior parte do jogo sob forma de sprint. Menos de 2% da distância percorrida por futebolistas profissionais é com posse de bola. (Reilly 1994, 1996,1997)
Mais uma vez, segundo estudo de Bangsbo, a intensidade do esforço de um futebolista durante a partida, depende do seu nível de condição física e de sua função tática na equipe. Defensores e atacantes cobrem aproximadamente a mesma distância, porém a distância foi significativamente menor que a coberta pelos meio-campistas. Em geral os jogadores de meio–campo têm melhor condicionamento físico.
Ainda segundo Bangsbo, não há diferença entre, atacantes, meio-campistas e defensores para corrida com alta intensidade, porém os meio-campistas executam mais corridas de baixa velocidade. Os meio-campistas não só correm a pouca velocidade com maior freqüência, mas com uma maior duração refletindo seu papel tático e a quantidade de condução de bola dos jogadores de meio e especialmente os atacantes é 2x maior que os zagueiros, no entanto os zagueiros em 2 ou 3 x mais executam a interceptação da bola a mais que os atacantes.
Exatamente esta especialização das funções nos jogos é que deve ser levada em conta para a planificação das cargas dos treinamentos. (Morozov, Bescov, 1977)
De acordo com a posição do futebolista, comprova-se um comportamento característico de corrida. Os futebolistas de meio-campo têm, em média, o programa de corrida mais intenso, em função do seu papel de ligação entre defesa e ataque (Weineck,2000)
FREQUÊNCIA CARDÍACA
Os futebolistas apresentam FC de 150 a 190 bpm durante a maior parte do jogo, descendo de 150 em breves períodos. (Bangsbo)
Ainda segundo estudos de Bangsbo, estima-se que a intensidade média durante uma partida é de aproximadamente 70% do consumo máximo de oxigênio.
Estudo de Rhode e Espersem (1998), aponta que em 11% do tempo de jogo a FC apresenta valores inferiores a 73% da FC máx, 63% entre 73 e 92% da FC max, e 26% valores superiores a 92% da FC max.
SPRINTS
O esforço do futebolista está caracterizado sobretudo por esforços explosivos, onde esses são repetidos intermitentemente um elevado nº. de vezes, ou seja, o jogo de futebol nada mais é do que uma sucessão de sprints (Cometti,1999 e 2002), com constantes trocas de sentido e direção, onde esses estímulos são na sua grande maioria em distâncias bem curtas, com duração média de 2 a 4”. Sprints constituem 11% da distância total percorrida durante a partida (+ ou – 1100 m). Isso corresponde a 0,5 a 3,0% do tempo de bola em jogo.
Weineck (2000), diz que o percurso total percorrido em forma de sprints está situado entre 500 e 3000 m para um nº. de 40 a 100 sprints por jogo e em alguns casos essa marca é consideravelmente ultrapassada e esses sprints são na sua maioria até 25 metros e as acelerações ultra curtas (5m) e curtas (até 25m), são características do jogo de futebol.
Já Shepard, (1990) afirma que 8 a 12 % da distância total coberta durante um jogo são realizadas em velocidade de sprint com mudança de velocidade e direção a cada 5 segundos.
Estudo de Bizanz e Gerish (1988), durante a copa européia de 1988 na Alemanha concluiu que as acelerações curtas de 0 a 5m são predominantes nos jogos e são realizadas 2x mais que as distâncias de 5 a 10 m e 10 a 20m e cinco vezes mais que em distancias maiores de 20m.
Há uma relação entre a qualidade do futebolista e a realização de exercícios de alta intensidade durante um jogo (Bangsbo et al 1991; Reilly 1994; Withers et al 1982). Devido a isso futebolistas da 1ª divisão se exercitam em alta intensidade por mais tempo que os de divisões inferiores (Ekblon 1986). Segundo Mujika et al, 2000, há uma relação entre qualidade do jogo e a quantidade de exercícios de alta intensidade realizados durante a partida. Resultados de estudos de Bangsbo demonstram que quanto mais alto o nível do futebol, mais elevada era a intensidade da corrida executada.
Os exercícios de alta intensidade são realizados durante 5% do tempo total de partida e a média da relação descanso – atividades de baixa intensidade – atividades de alta intensidade é de 3:16:1.Essa relação sugere que a maior parte da energia demandada pelo futebol é de natureza aeróbia com períodos de exercícios de alta intensidade raros e curtos (Rienzei et al 2000; Withers et al 1982).
A distância percorrida em velocidade máxima também diminui na segunda metade do jogo por causa da fadiga e de outros fatores como os resultados parciais (Ali e Farraly 1991) e na maioria das vezes as corridas de velocidade máxima não superam 20 metros (Winkler, 1985). Reilly e Thomas (1976) verificaram a realização de uma corrida de velocidade máxima, em média, a cada 90 segundos.

Um comentário:

  1. Muito interessante o artigo. Excelente para traçarmos parâmetros na prescrição de treinamento de atletas de futebol.

    Como poderia conseguir um estágio na preparação física do Vasco? Sou estudante de ed. física.

    gabrielmagalha@gmail.com

    obrigado

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