Infelizmente, a área de pesquisa bioquímica do exercício ainda é encarada como uma área que "... não é para ser aplicada, efetivamente, ao futebol, onde a maioria das pesquisas é voltada para a saúde, sobretudo para a qualidade de vida das pessoas" (Cidade do Futebol, 10/05/2006) . Acreditamos que isso ocorra em função do desconhecimento do potencial de aplicação da bioquímica nos esportes de competição. Assim, vamos iniciar nosso artigo tentando explicar o que vem a ser isso, bioquímica do exercício.
A bioquímica é uma ciência experimental, que permite a quantificação das alterações metabólicas induzidas por qualquer tipo de estresse, entre eles os induzidos pelos treinamentos e competições anuais. Ou seja, a bioquímica aplicada ao futebol possibilita a avaliação dos diferentes níveis de alterações metabólicas e de lesão muscular através de análises clínicas específicas, feitas no sangue e suas frações (células vermelhas, células brancas e plasma).
É importante ressaltar que o sangue reflete o estado fisiológico de todos os tecidos, permitindo com isso mensurar (quantificar) biomarcadores que respondem ao exercício, positivamente ou negativamente.
O Laboratório de Bioquímica do Exercício (Labex) pesquisa quais análises sanguíneas são mais sensíveis para mostrar adaptação ou mal-adaptação ao treinamento desde 1996. Desde essa época desenvolvemos a técnica de detecção do limiar de estresse, com o objetivo de avaliar, principalmente, se o tempo destinado à recuperação dos atletas entre sessões de treino ou jogos está adequado.
Resumidamente, essa técnica consiste na realização de algumas análises bioquímicas no sangue dos jogadores ao longo dos treinamentos e competições. Através da comparação dos valores dessas análises, dos jogadores com eles mesmos e, frente ao grupo nos diferentes momentos é possível discriminar aqueles jogadores com valores alterados dos respectivos intervalos de referência para a modalidade. De acordo com nossa proposta, somente aqueles jogadores acima do seu limiar de estresse são submetidos a um período regenerativo maior.
Vale a pena ressaltar que algumas dessas análises sanguíneas também possibilitam o diagnóstico do perfil nutricional do grupo, contribuindo para o trabalho do nutricionista, que pode fazer correções também mais individualizadas, mesmo seguindo um cardápio único.
O trabalho feito até o momento pelo Labex com atletas de diferentes modalidades tem se mostrado profilático (diminuem as freqüências nos departamentos médicos dos clubes), econômico, pois permite a individualização parcial das cargas de treinamento somente quando necessário, otimizando os efeitos do treino para todo o grupo e pedagógico, porque permite uma discussão mais balizada dos efeitos da periodização do treino, e com isso uma correção, quando necessário, da metodologia utilizada.
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