Foi suado, tenso, mas a vitória por 2 a 1 sobre o ABC-RN, de virada, colocou o Vasco nas oitavas de final da Copa do Brasil e deu sequência à boa fase. Na Taça Rio, o momento também é positivo, com a a liderança do Grupo A (13 pontos) e a vaga encaminhada para a semifinal. O atual clima de otimismo e euforia da torcida com o Trem-Bala da Colina é bem diferente do que se via há três meses, no início da Taça Guanabara.
As quatro derrotas seguidas nas primeiras rodadas, sendo três delas para times de menor expressão, deram ao Vasco o incômodo feito de pior início de estadual de toda a sua história. A crise fez vítimas para todos os lados. A torcida protestou, xingou, pichou... Carlos Alberto saiu, Felipe ficou após um breve afastamento. Paulo César Gusmão foi embora com sua comissão técnica. Novos jogadores chegaram.
O escolhido para tentar comandar a retomada vascaína foi o técnico Ricardo Gomes. Até o momento, a contratação tem rendido bons frutos. Na análise que faz do seu trabalho até agora, ele acredita que o mais importante foi o trabalho de recuperação da então abalada confiança dos jogadores. Gomes disse que a sorte também é um componente importante. Ele lembrou que nos últimos jogos, contra Bangu e ABC, os adversários tiveram expulsões que mudaram o rumo das partidas.
Muro pichado em São Januário durante a crise
(Foto: André Durão / Globoesporte.com) - Agora temos confiança, que foi conquistada através dos resultados. Sem isto, ninguém joga. Time bom vira mais ou menos. Hoje a equipe sabe o que faz em campo. Quando joga mal no primeiro tempo, sabe como melhorar na segunda etapa. Acho que o fundamental é isto mesmo: confiança. No primeiro clássico que jogou, contra o Flamengo, o Vasco vinha de três derrotas. Acho que agora a sorte mudou de lado. Nos dois últimos jogos, tivemos um atleta adversário expulso, o que sempre faz diferença. Faz parte do jogo - analisou o comandante.
Ricardo Gomes tem 11 partidas à frente do time e apresenta bons números. Foram oito vitórias, dois empates e apenas uma derrota. O aproveitamento de pontos é de 78%.
Confira em capítulos a trajetória do Vasco até se livrar da crise:
Capítulo 1: saída de Carlos Alberto
Ídolo da torcida cruz-maltina, o meia foi considerado um dos vilões da crise. Junto com Felipe, o camisa 19 foi afastado do elenco após discutir com o presidente Roberto Dinamite quando houve uma cobrança mais forte no vestiário após a derrota para o Boavista, no Engenhão. Felipe se entendeu com o dirigente e foi reincorporado. No caso de Carlos Alberto, a diretoria considerou que ele não mostrou interesse em ficar na Colina. O jogador chegou a receber um dirigente em sua casa, mas ainda assim não houve avanço. Ele nem conversou com Roberto Dinamite, que determinou que houvesse o empréstimo.
O fim da história é que Carlos Alberto foi para o Grêmio. Embora ele seja querido na Colina, pessoas do clube acharam que a saída foi boa porque consideram que o jogador não exercia uma liderança positiva. Além disso, apesar do discurso que era repetido quantas vezes fosse preciso, havia diferenças entre ele e o técnico Paulo César Gusmão. A saída do camisa 19 abriu espaço na folha salarial, e a diretoria se lançou ao mercado em buscar de reforços.
Capítulo 2: mudança da comissão técnica
PC Gusmão assumiu o comando do time em uma situação dramática, na penúltima posição do Brasileiro de 2010, e levou o Vasco até uma vaga na Sul-Americana. Durante esse período, houve divergências entre o técnico e dirigentes, que passaram a defender a mudança de treinador para 2011. No início deste ano, os resultados ficaram bem abaixo do esperado.
Mais do que as derrotas, o estopim para a saída do treinador foi a desconfiança que pairou sobre ele. Dentro da diretoria havia a informação de que ele havia vazado para a imprensa a discussão entre Roberto Dinamite e Carlos Alberto no vestiário após a derrota para o Boavista, além de outros episódios anteriores.
Após a saída de PC, chegou um técnico com as "características ideais", de acordo com a visão dos dirigentes, embora Ricardo Gomes não tenha sido o primeiro a ser procurado. Mais estável, discreto e bom de papo, ele conseguiu recuperar a confiança abalada dos jogadores - e logo os bons resultados, como o 9 a 0 sobre o América, começaram a aparecer.
Capítulo 3: melhora física no decorrer da competição
Dede, Elton, Felipe e Bernardo no treino físico do
Vasco (Foto: Maurício Val / FOTOCOM.NET) Dentro do clube, a avaliação foi de que a pré-temporada em Atibaia foi muito bem realizada. Mesmo assim, e com a maioria dos atletas se apresentando com o percentual de gordura dentro do que havia sido estipulado, a equipe teve muitas dificuldades na parte física no início do campeonato. Os recém-contratados e os mais experientes, como Felipe, foram os que mais sofreram. Com o decorrer dos jogos, o time teve uma evolução gradativa, aproveitando o período que ficou sem jogar, durante as semifinais da Taça Guanabara.
No aspecto da preparação física, a mudança de comissão técnica também parece ter feito bem aos jogadores, apesar de o trabalho anterior, comandando por Jorge Sotter, ser elogiado. O lateral-esquerdo Ramon, por exemplo, disse que os atletas treinam com a mesma intensidade, mas com a "cabeça menos cansada" com a nova metodologia, agora sob a responsabilidade de Rodrigo Poletto.
Capítulo 4: chegada de reforços
Talvez a principal explicação para o salto de qualidade do Vasco dentro do Carioca tenha sido a contratação de jogadores experientes e de qualidade reconhecida, como Diego Souza (Atletico-MG), Alecsandro (Internacional) e Leandro (Grêmio). Os três jogadores estavam encostados em outros clubes. No início da competição, a diretoria chegou a avisar que só pensava em reforços para o Brasileiro. A crise de resultados acelerou o processo.
Ricardo Gomes agradeceu e passou a ter mais opções por setor. O time evoluiu. Logo na estreia, Diego Souza fez um bonito gol e abriu o caminho da vitória por 2 a 0 sobre o Botafogo.
Jeferson, uma das opções do meio-campo
(Foto: Alexandre Loureiro / FOTOCOM.NET ) Capítulo 5: concorrência acirrada
A presença de novos jogadores aumentou, e muito, a concorrência por uma vaga entre os titulares. Especialmente do meio de campo para frente. Jeferson, que vinha bem, foi para o banco após a chegada de Bernardo e Diego Souza. Em alguns jogos, nem foi relacionado. Além dele, Ricardo Gomes conta, por exemplo, com Leandro e Elton, boas opções para o setor ofensivo, no banco de reservas. Isso sem falar no jovem Bernardo, que vem entrando muito bem no time. Os atletas se deram conta de que têm que matar um leão a cada jogo para seguir entre os 11.
A forte concorrência chegou a fazer uma vítima. O atacante Marcel, contratado no início do ano, resolveu aceitar uma proposta da Coreia depois de perceber que teria problemas para disputar vaga com Elton, que já tinha moral dentro do Vasco por causa da artilharia do time em 2009.
Capítulo 6: a ressurreição de Felipe
As contratações foram importantes, mas a evolução de Felipe talvez tenha sido o principal "reforço". No início do Carioca, o meia de 33 anos não rendeu o que dele se esperava e caiu em desgraça com a torcida. Foi muito xingado nos estádios e hostilizado em pichações nos muros de São Januário. Na época, foi até afastado por uma semana pela diretoria. Depois que foi reincorporado, só evoluiu.
A prova final foi o show dado na goleada por 4 a 0 sobre o Bangu, na última rodada da Taça Rio, em São Januário. O camisa 6 fez gol e participou de todos os outros três. Na partida anterior, contra o ABC, pela Copa do Brasil, o consenso após o 0 a 0, em Natal, foi que a equipe havia sentido a falta de Felipe.